Avaliação do comportamento de espécies piscícolas ibéricas de água doce perante estímulos acústicos e luminosos e o seu contributo para o desenvolvimento de uma barreira comportamental para peixes
- Jesus Barreira, Joaquim José
- Amílcar Teixeira Director/a
- Rui Manuel Vitor Cortes Codirector/a
Universidad de defensa: Universidade de Vigo
Fecha de defensa: 23 de julio de 2021
- José Maria Santos Silva Presidente/a
- Francisco Javier Sanz Ronda Secretario
- Simone Varandas Vocal
Tipo: Tesis
Resumen
O chamado “desenvolvimento sustentável” veio introduzir variáveis de salvaguarda nas sociedades eminentemente consumistas e despreocupadas com a degradação acelerada dos recursos e património natural. Os ecossistemas aquáticos estão no centro destas preocupações, pois os níveis de pressão, seja pelo crescimento desordenado das cidades e deficientes sistemas de tratamento de resíduos e efluentes, seja pela construção de pequenas e grandes barragens, com a consequente fragmentação de habitats, estão na origem de muitos impactes negativos, nomeadamente nas comunidades aquáticas, caso da fauna piscícola nativa. Os sistemas comportamentais para peixes, baseados em estímulos acústicos ou luminosos, têm sido encarados como uma ferramenta valiosa na proteção das comunidades piscícolas. Mais recentemente, o desenvolvimento de barreiras ou sistemas de orientação seletivos possui um elevado potencial pela capacidade de induzir alterações comportamentais diferenciadas, que permitam, por exemplo, afastar os peixes nativos dos perigos dos órgãos hidráulicos nos cursos de água regularizados ou simplesmente orientá-los para zonas de proteção, sejam de desova, de alimentação ou de abrigo. O objetivo principal da presente tese foi contribuir para o desenvolvimento de barreiras comportamentais seletivas para peixes com base nos estímulos acústicos e luminosos. Foram realizadas experiências com a utilização de estímulos acústicos e luminosos, previamente selecionados, com a finalidade de descobrir o efeito repulsivo em três espécies nativas ameaçadas pela fragmentação dos rios na Península Ibérica: um salmonídeo, a truta-de-rio (Salmo trutta), e dois ciprinídeos endémicos, a boga-do-Douro (Pseudochondrostoma duriense) e o barbo-comum (Luciobarbus bocagei), com diferenças bioecológicas conhecidas, quer de natureza morfológica, fisiológica, comportamento trófico ou preferências de habitat. As experiências laboratoriais foram realizadas com a utilização das três espécies e controlo similar das condições ambientais, o que permitiu que o desenho experimental e as metodologias utilizadas isolassem o comportamento de cada uma das espécies testadas, quer no estímulo acústico com duas frequências (fixa a 140Hz e sweep - variável até 2000Hz), quer no estímulo luminoso, igualmente com duas frequências (350 flashes/minuto e 600 flashes/minuto). Os principais resultados das experiências realizadas identificaram que a espécie salmonícola S. trutta não exibiu qualquer comportamento repulsivo em relação aos estímulos acústicos tendo, pelo contrário, exibido um elevado comportamento repulsivo em relação aos estímulos luminosos, em especial à luz estroboscópica com a frequência de 600 flashes/minuto/dia. Relativamente às espécies ciprinícolas P. duriense e L. bocagei, constatámos um elevado comportamento repulsivo em relação aos estímulos acústicos e em especial ao sweep e, ao invés, um fraco ou moderado comportamento repulsivo em relação à luz estroboscópica. Foi também possível verificar que o estímulo acústico com base no tom puro de frequência fixa (140Hz) não provocou qualquer estímulo repulsivo nas três espécies testadas. A luz estroboscópica 350 flashes/minuto revelou-se eficaz para S. trutta (embora de eficácia inferior à frequência 600 flashes/minuto), com eficiência moderada para P.duriense e sem qualquer efeito repulsivo para L. bocagei. Aliás, é de relevar o papel de eficácia intermédia e moderada de P.duriense nas experiências com estímulos luminosos. Realce ainda para a inexistência de evidências de fenómenos de habituação, nas experiências onde se observou um comportamento repulsivo, quer com estímulos acústicos, quer com estímulos luminosos. Estes resultados são coerentes com a bibliografia recente e demonstraram diferenças para os estímulos testados e em particular para as espécies nativas da Ibéria. A ausência de estruturas auditivas acessórias (e.g. aparelho weberiano) no salmonídeo e consequentemente baixa sensibilidade auditiva e elevada acuidade visual dada a sua condição de predador visual e oportunista parece justificar os resultados para a espécie S. trutta. Por outro lado, o comportamento trófico dos ciprinídeos e a preferência por habitats bentónicos, mais profundos e menos iluminados, em especial para L. bocagei, justificam, aparentemente, a baixa acuidade visual em favor de outros sentidos como a audição. A diferenciação comportamental verificada entre espécies/famílias nas experiências realizadas na presente tese, sejam relacionadas com causas genéticas, tróficas ou ambientais, constituem aspetos de grande interesse de análise no desenvolvimento de sistemas comportamentais seletivos, com o intuito de condicionar e/ou orientar o comportamento das espécies-alvo. Tendo em consideração as pressões e a vulnerabilidade da fauna piscícola nativa da Ibéria, em especial das espécies potamódromas, os resultados obtidos no presente estudo revelaram-se muito promissores para a futura utilização de barreiras comportamentais seletivas em cursos de água, que contribuam decisivamente para a conservação de habitats e espécies ameaçadas.